As mudanças mais importantes na atividade endócrina durante o envelhecimento, do ponto de vista clínico, envolvem o pâncreas e a tireóide. Aproximadamente 40% dos indivíduos com idade entre 65 e 74 anos e 50% dos indivíduos com mais de 80 anos, possuem algum problema com tolerância a glicose ou "diabete mellitus", e quase metade dos diabéticos idosos não são diagnosticados. Essas pessoas estão correndo o risco de desenvolver rapidamente complicações secundárias, principalmente vasculares. As mudanças nos receptores e nos pós-receptores de insulina são componentes críticos da Endocrinologia do Envelhecimento. Além da diminuição relativa da secreção de insulina pelas células, a alimentação errada dos nossos dias, o sedentarismo, o aumento da massa gorda abdominal, e a diminuição da massa magra do corpo contribuem para a deterioração do metabolismo da glicose. Dieta cuidadosa, exercícios físicos, agentes hipoglicêmicos e insulina são os quatro componentes do tratamento desses pacientes, cujos cuidados médicos devem ser intensivos.
Disfunções na tireóide também são comuns nos idosos. A diminuição da concentração da Tiroxina Plasmática (T4) e o aumento da concentração do Hormônio Estimulador da Tiróide (TSH) ocorre em 5% a 10% das mulheres idosas. Essas anomalias são causadas principalmente por auto-imunidade e são, portanto, associadas à idade, como conseqüência do processo de envelhecimento. O envelhecimento regular é acompanhado por uma sutil diminuição na liberação do TSH pela hipófise, o que resulta em um declínio gradual na concentração da Triiodotironina (T3), sem uma mudança importante nos níveis de T4. Essa sutil diminuição na concentração do T3 plasmático ocorre em um grande número de idosos saudáveis e ainda não foi relacionada, de maneira convincente, com mudanças funcionais durante o processo de envelhecimento. No momento, ainda não foi investigado o benefício de uma terapia de reposição de T3 em idosos saudáveis.
Os problemas com a resistência à insulina e a degradação nas funções da tireóide são freqüentemente de importância clínica e reconhecidos e tratados como doenças.
Outros três sistemas hormonais apresentam diminuição da concentração de hormônios durante o envelhecimento, e essas mudanças são consideradas principalmente fisiológicas. Recentemente, estratégias de reposição hormonal têm sido desenvolvidas, mas ainda existem controvérsias em muitos de seus aspectos, já que a segurança e os benefícios desses tratamentos não foram uniformemente comprovados nos adultos entre 30 e 50 anos, nos quais se aumentaram os níveis de hormônio no sangue.
A mudança mais rápida e dramática ocorre nas mulheres em torno dos 50 anos. Antes da menopausa, a reposição de Estradiol (E2) é muito lenta. Por muitos anos, a visão que prevalecia era que a menopausa resultava de uma exaustão dos folíolos do ovário. Uma perspectiva alternativa diz que as mudanças relacionadas à idade no sistema nervoso central e na glândula pituitária (Hipófise) iniciam a transição à menopausa. É muito convincente a evidência que tanto o ovário quanto o cérebro demarcam o ritmo da menopausa.
Nos homens, as mudanças da atividade no eixo Hipotálamo-Hipófise-Gonadal são mais lentas e mais sutis. Durante o envelhecimento, ocorre um declínio gradual nos níveis de testosterona. Essa "Andropausa" é caracterizada por uma diminuição do número de células de Leydig nos testículos e de sua capacidade de secreção, assim como por uma gradual diminuição do estímulo Gonadotrófico.
O segundo sistema hormonal que demonstra as mudanças relacionadas à idade é nos níveis de circulação da Dehidroepiandrosterona (DHEA) e seu sulfato (DHEAS), que gradualmente declinam com a idade resultando na "Adrenopausa".
As secreções de DHEA das supra-renais também diminuem com o tempo, enquanto que secreções da adrenocorticotrofina (ACTH), que são fisicamente ligadas aos níveis de plasma Cortisol, permanecem inalteradas. O declínio dos níveis de DHEA(S) em ambos os sexos contrasta então com a manutenção dos níveis de plasma Cortisol e deve ser causado por uma seletiva diminuição no número de zonas funcionais nas células reticulares do córtex adrenal, especialmente regulado pelo marca passo central do envelhecimento, o Hipotálamo.
O terceiro sistema endócrino que gradualmente declina sua atividade durante o envelhecimento é do eixo Hormônio do Crescimento (GH/IGF-I).
A amplitude do pulso, a duração, e a fração do H.C. produzido gradualmente, decrescem durante o envelhecimento, mas não a freqüência do pulso. Paralelamente, existe uma progressiva queda nos níveis de circulação do IGF-I, em ambos os sexos. Não existem evidências para um fator "periférico" no processo da "Somatopausa" e essa atenuação do marca-passo parece estar principalmente localizado no Hipotálamo. O uso externo do GH, mesmo nos idosos mais velhos, pode restaurar a juventude em vários anos com tratamentos baseados na aplicação de peptídeos do Hormônio do Crescimento.
Não se sabe se as mudanças na função Gonadal (Menopausa e Andropausa) estão inter-relacionadas com os processos da Adrenopausa e Somatopausa, que ocorrem em ambos os sexos. Além disso, combinações funcionais (como tamanho e função de um músculo, gordura e massa óssea, progressão de arteriosclerose e mudanças nas funções cognitivas) não possuem relação com essas mudanças nas atividades endócrinas.
Contudo, os efeitos de um envelhecimento normal lembram as características encontradas em deficiências hormonais (como Hipogonadismo e deficiência no H.C.), as quais são revertidas com sucesso através de terapias de reposição hormonal, em pacientes adultos.
Embora o envelhecimento não resulte simplesmente em uma variedade de estados de deficiência hormonal, a intervenção médica nos processos de menopausa, andropausa, adrenopausa ou somatopausa pode, de forma bem sucedida, prevenir ou atrasar alguns aspectos do processo de envelhecimento.
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