Doença silenciosa que atinge a mulher na gravidez, o diabetes gestacional pode causar danos à saúde da mãe e do bebê se não diagnosticado e tratado corretamente.
Assim como o diabetes tipo 1 (doença autoimune que atinge jovens) e o tipo 2 (relacionada à obesidade e ao sedentarismo), o diabetes gestacional também é caracterizado pelo aumento dos níveis de açúcar no sangue. O endocrinologista Dr. Carlos Negrato, diretor do Departamento de Diabetes Gestacional da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes), explica, no entanto, que a doença surge na gravidez e só pode ser diagnosticada no fim do segundo trimestre de gestação:
— Se surgir antes desse período é sinal de que a mulher já tinha diabetes antes de engravidar e não sabia.
A doença singular ocorre por uma produção de hormônios pela placenta que podem bloquear a ação da insulina, responsável pelo transporte do açúcar do sangue para as células. A partir da 24ª semana de gestação, o nível desses hormônios começa a ficar mais elevado, fazendo com que a insulina tenha mais dificuldade de exercer sua função e aumentando as chances de desenvolver o diabetes gestacional.
— Enquanto a mãe corre o risco de ter pré-eclâmpsia (hipertensão na gestação), ganhar peso excessivo e abortar precocemente, a criança pode nascer muito grande, com cerca de 4 kg, apresentar insuficiência pulmonar, estar sujeita a maior icterícia (amarelidão da pele), ou sofrer traumatismos, como fraturar algum ombro ao nascer.
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Além disso, como cerca de dois terços do açúcar da mãe vão para o bebê, a quantidade extra de glicose no corpo sobrecarrega o pâncreas da criança, que passa a produzir mais insulina.
A endocrinologista Dra. Vivian Ellinger, presidente da regional do Rio de Janeiro da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), alerta ainda para problemas que podem ocorrer depois do parto:
— Se a doença não for tratada adequadamente, há o risco de esse bebê ter hipoglicemia (teor de glicose no sangue abaixo do normal) ao nascer ou mesmo de ocorrer morte fetal súbita. Já na vida adulta, são maiores as chances de desenvolver diabetes e síndromes metabólicas.
Risco
Entre os fatores de risco que têm relação com a doença estão mulheres com herança genética (com histórico de diabetes na família), as que engravidam acima do peso ou engordam muito durante a gravidez, as que têm a primeira gestação depois dos 25 anos de idade ou, ainda, aquelas que são portadoras da síndrome do ovário policístico (desequilíbrio hormonal que pode causar alterações no ciclo menstrual, pequenos cistos no ovário ou mesmo dificuldade para engravidar).
Segundo Negrato, trabalhos feitos no Brasil durante os anos 80 indicavam que 7,6% das mulheres grávidas desenvolviam diabetes gestacional. Hoje, com mudanças nos critérios para o diagnóstico, estima-se que cerca de 18% das mulheres grávidas sejam atingidas pela doença.
Diagnóstico
Vale ressaltar que o diagnóstico da doença só pode ser feito a partir da 24ª semana de gestação. Assim, um exame de glicose no início da gravidez é inconclusivo sobre o diabetes gestacional, já que o problema só costuma se manifestar no fim do segundo trimestre.
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Assim, se a mulher no início da gravidez descobre que sua glicemia é igual ou maior que 92 mg/dl (miligramas por decilitros), significa que ela tinha diabetes antes de engravidar. Se for menor do que essa taxa, ela deve fazer o chamado exame de curva glicêmica entre a 24ª e 28ª semana de gestação. No teste, a gestante colhe sangue para saber o nível de açúcar ainda em jejum. Depois, toma um líquido doce com 75 gramas de glicose e repete o teste de sangue 60 minutos depois e 120 minutos depois. Uma hora após o líquido ser ingerido, o nível de glicose da mulher não deve ultrapassar 180 mg/dl. Duas horas depois, o valor deve ficar no máximo em 155 mg/dl.
Tratamento
Quando a doença é diagnosticada, a primeira medida é o tratamento através de dietas e mudanças no estilo de vida, com a inclusão de uma rotina de exercícios físicos. Se dentro de duas semanas a taxa de glicemia não se normaliza, os médicos recorrem à medicação com insulina na paciente. Apenas 20% das mulheres com diabetes gestacional precisam fazer uso da insulina, cujo tratamento é seguro e não apresenta riscos para mãe ou bebê.
Uma vez diagnosticado, o diabetes gestacional persiste até o fim da gravidez. Depois que o bebê nasce, é esperado o fim da produção de hormônios pela placenta e, consequentemente, do diabetes gestacional. Alguns casos, no entanto, não regridem e as mulheres passam a conviver com o diabetes. De acordo com Negrato, de 20% a 25% das gestantes diagnosticadas com a doença continuam diabéticas.
Além disso, explica o especialista, uma vez que se tem a doença, maiores são as probabilidades de desenvolvê-la em uma gravidez futura.
Apesar das semelhanças, o diabetes gestacional não deve ser confundido com os diabetes tipo 1 ou 2. A condição da gestante que desenvolve a doença é diferente da apresentada pela mulher diabética que engravida, que deve se preparar para a gravidez com um controle rígido sobre a glicemia. Aquelas que antes faziam uso de remédios como hipoglicemiantes orais, por exemplo, devem trocar a medicação por insulina antes de engravidar. A maioria dos medicamentos são contraindicados para o período de gestação. Planejar a gravidez, portanto, é fundamental, explica a Dra. Vivian:
— Uma mulher que tem diabetes pode engravidar, mas deve procurar seu endocrinologista para ter a doença muito bem controlada para minimizar o risco de má formação do bebê. Já quem não tem diabetes, deve tomar muito cuidado para não engravidar acima do peso e não engordar demais na gravidez para não correr o risco de ter diabetes gestacional.
Fonte: Expresso MT