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Cirurgia bariátrica em teste controla diabete em paciente com sobrepeso

Uma técnica experimental de cirurgia bariátrica, que consiste na inserção de um tubo flexível e impermeável no interior do intestino do paciente, foi capaz de promover o controle da diabete tipo 2 em voluntários com obesidade leve ou sobrepeso. A conclusão é de um estudo do Hospital Oswaldo Cruz, de São Paulo, publicado neste mês na revista científica The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism.


A pesquisa analisou o efeito da técnica em 16 pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) médio de 30. Hoje, o Conselho Federal de Medicina (CFM) autoriza a cirurgia bariátrica para pacientes com IMC acima de 40. Caso sejam comprovadas doenças como diabete tipo 2, hipertensão arterial, doença coronariana, artrites e outras comorbidades, o procedimento também pode ser feito em pessoas com IMC entre 35 e 40.
A hipótese testada pelos pesquisadores era de que o procedimento também promoveria o controle da diabete entre os menos obesos. Ao final de um ano, isso foi comprovado em 12 pacientes, 75% da amostra. A técnica testada é chamada de manga intestinal endoscópica ou exclusão duodenal.

Um revestimento de fluoropolímero de 60 cm de comprimento é inserido, por via endoscópica, no intestino do paciente. O dispositivo é preso por um anel, fixado logo no início do intestino. Não há cortes. Por ser impermeável, o tubo impede a absorção dos alimentos ingeridos.

Ao final do experimento, o IMC médio dos pacientes havia caído 3,6 pontos. O nível médio de glicemia de jejum caiu de 207 para 155 mg/dL. Outros indicadores, como triglicérides e colesterol, também apresentaram melhora. Depois de 12 meses - período no qual foi reduzida a quantidade de remédios para controle da diabete -, o dispositivo foi retirado dos pacientes.

O cirurgião Ricardo Cohen, um dos autores da pesquisa, explica que o dispositivo é feito para ficar no corpo do paciente por um ano. No caso dos participantes do estudo, 40% mantiveram a medicação reduzida mesmo depois da retirada do aparelho.

"Esse estudo é mais uma mostra de que intervenções que desviem a comida do contato do início do intestino delgado têm efeito positivo sobre o controle metabólico", diz Cohen.

O médico afirma que a maioria dos diabéticos no Brasil e no mundo tem IMC menor que 35. "Mesmo com o progresso do tratamento medicamentoso, o controle ainda é difícil. Nossa linha de pesquisa é dedicada a ajudar no tratamento adequado dos diabéticos não compensados com o melhor tratamento clínico", diz.

O médico Luiz Carlos Barbirato, de 56 anos, foi um dos voluntários do estudo. "Tive uma evolução boa. Era hipertenso e diabético. Em três meses, o remédio para hipertensão diminuiu pela metade. Em seis meses, o remédio para a diabete também foi reduzido para a metade. Em um ano, a glicemia quase tinha voltado ao normal", diz.

Com o dispositivo, Barbirato, que pesava 112 quilos, perdeu 18. "Depois que tirei o aparelho, aumentei um pouco o peso. Estou com 4 quilos a mais, mas isso está se mantendo."

Outro voluntário, o eletricista Manoel Messias, de 46 anos, conta que os efeitos positivos do procedimento persistiram por um ano após a retirada do dispositivo. "Perdi a vontade de comer doces e frituras. Então, como me adaptei a uma outra alimentação, ficou melhor para mim e a diabete caiu bastante."

Unicamp. Recentemente, pesquisadores da Unicamp publicaram os resultados de uma pesquisa parecida no periódico Annals of Surgery. Um grupo de 18 pacientes com IMC entre 25 e 30 se submeteu à retirada cirúrgica do duodeno, que liga o estômago ao intestino. Um dos autores do estudo, Bruno Geloneze Neto, membro da Regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, explica que, apesar dos bons resultados para o controle da diabete, a cirurgia ainda não traz vantagens em relação ao tratamento com remédios.

"Houve uma melhora da diabete em todos os pacientes, porém a melhora foi correspondente à de um tratamento clínico bem feito. Não justifica, em nosso ponto de vista, a cirurgia." Ele acrescenta que a operação pode trazer riscos desnecessários.

Fonte: Estadão


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