Você pode nunca ter ouvido falar em desreguladores endócrinos, mas com certeza já esteve diante de alguns deles. A ciência está descobrindo que produtos do nosso cotidiano, como esmaltes, televisão e até água encanada, escondem substâncias capazes de alterar o funcionamento do nosso corpo.
Os disruptores endócrinos são compostos artificiais ou naturais que interferem na ação dos nossos hormônios e nos expõem a doenças. Hoje, há suspeitas sobre mais de 800 misturas químicas.
“Elas estão na indústria e na agricultura e entram no corpo pela ingestão de água, de alimentos e pela respiração”, diz a química Débora Santos, da Universidade Federal de Pernambuco. Os efeitos dos tais desreguladores podem demorar décadas para aparecer. E existem situações em que o problema só dá as caras nas gerações futuras.
Na sequência, listamos os 12 disruptores tidos como mais perigosos, segundo pesquisa do Environmental Working Group, uma entidade especializada em saúde ambiental:
1 - PBDE
(retardantes de chamas, isto é, evitam que os equipamentos peguem fogo)
Encontrado em: Eletrônicos (celular, televisão, videogame), móveis, carpetes, colchões e alguns travesseiros
Acusação: Distúrbios na tireoide, infertilidade feminina e problemas neurológicos em crianças
2 - Dioxinas
Encontradas em: Pesticidas como o DDT e no branqueamento químico do papel
Acusação: Infertilidade, aborto, diabetes, endometriose e déficits imunológico
3 - Atrazina
Encontrada em: Herbicida para as plantações de milho e cana-de-açúcar
Acusação: Infertilidade e câncer
4 - Chumbo
Encontrado em: Tintas, cigarro e água encanada
Acusação: Distúrbios na tireoide
5 - Bisfenol A
Encontrado em: Alguns tipos de plástico e no revestimento de enlatados
Acusação: Produção de espermatozoides defeituosos, puberdade precoce, câncer, obesidade, diabete e doenças cardiovasculares
6 - Perclorato
Encontrado em: Combustível de foguetes espaciais e fogos de artifício
Acusação: Distúrbios na tireoide
7 - Arsênico
Encontrado em: Pesticidas, alimentos e água encanada
Acusação: Câncer de pele, bexiga, pulmões e alterações sexuais
8 - Mercúrio
Encontrado em: Peixes, frutos do mar e usinas de energia movidas a carvão
Acusação: Redução do QI de crianças, problemas no ciclo menstrual e no pâncreas
9 - Ftalato
Encontrado em: Cosméticos (esmaltes e perfumes), pavimentação de ruas, cortinas de chuveiro, couro sintético e vinil
Acusação: Anormalidades genitais, interferência em hormônios como testosterona e estrogênio e no desenvolvimento das mamas
10 - Químicos perfluorados
Encontrados em: Panelas antiaderentes, roupas, carpetes e capas de chuva
Acusação: Distúrbios na tireoide e infertilidade
11 - Compostos organofosforados
Encontrados em: Inseticidas
Acusação: Déficit de testosterona e problemas na gestação (pré-eclâmpsia e aborto)
12 - Dietilenoglicol
Encontrado em: Produtos de higiene pessoal e solventes industriais
Acusação: Redução na movimentação dos espermatozoides
Quem poderá nos defender?
Apesar de o cenário não ser nada animador, é importante ressaltar que o universo dos disruptores endócrinos está lotado de incertezas. “As evidências vêm de estudos epidemiológicos e de experiências com animais, mas não há provas concretas, que relacionem causa e efeito”, reconhece a endocrinologista Evanthia Diamanti Kandarakis, professora da Universidade de Atenas, na Grécia, e autora das recomendações da Sociedade Americana de Endocrinologia. Há, inclusive, críticas sobre a quantidade elevada de químicos utilizados em pesquisas com cobaias, superior aos níveis encontrados no ambiente.
Os cientistas têm dificuldades em realizar experiências que envolvam seres humanos como voluntários. “É impraticável expor uma pessoa a substâncias nocivas”, lembra o endocrinologista Alexandre Hohl da Sbem. O próprio código de ética em pesquisa proíbe experiências que colocam em risco o bem-estar de alguém. Isso sem contar que as doenças surgiriam não por um único disruptor, mas pela ação conjunta de vários deles – e ao longo de anos.
Enquanto não temos um veredicto, certas atitudes minimizam o contato com os químicos. “No mercado, priorize garrafas de aço e recipientes de vidro em vez de itens de plástico, prefira frutas e verduras frescas no lugar de comida em conserva e não coloque no micro-ondas recipientes com bisfenol”, orienta a endocrinologista Poli Mara Spritzer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Essas medidas simples devem ser acompanhadas de uma ampla discussão acerca do assunto, que envolva setores da sociedade, da política, da indústria e da academia. O objetivo em comum é cortar relações com os compostos que sabidamente desregulam nossa rede de hormônios. Afinal, vale tudo para que o futuro não seja tão sombrio.
Fonte: https://saude.abril.com.br/bem-estar/12-produtos-do-dia-a-dia-que-podem-desregular-seus-ho