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Mulheres e Hormônios

"Por que eu estou nervosa? Ai meu Deus! São cinco horas da manhã e eu aqui, de olhos abertos! O despertador vai tocar às sete... "Trim!!!!" Ah, não, agora que eu consegui pegar no sono vou ter que levantar... Preciso descansar, mas, se me atrasar para o trabalho, o estresse vai ser maior! Olha só: engordei! Mas não mudei minha alimentação... Que calor é esse?! Todo mundo de casaco e eu aqui suando! Ai meu Deus, começou de novo: esse calor subindo até o alto da cabeça!
Já estou aqui na redação, quero ligar o ventilador, o ar condicionado, mas está todo mundo com frio! Ih, fiquei menstruada! Acho que hoje vou conseguir dormir..."

O texto acima é da jornalista Sandra Malafaia, 43 anos, que ainda não chegou na menopausa, mas está com variações hormonais - motivo pelo qual teve a idéia de fazer a reportagem a seguir.


É Cor de Rosa Choque

A cantora Rita Lee já disse na música "Cor de Rosa Choque", que "mulher é bicho esquisito". Em se tratando da ação dos hormônios na vida das pessoas do sexo feminino, isso pode ser explicado. Seja na puberdade, gravidez, tensão pré-menstrual (TPM) ou menopausa, eles, com certeza, são parceiros fiéis.

Segundo a Dra. Amanda Athayde, presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia da SBEM, realmente os hormônios são capazes de influenciar o comportamento de uma pessoa e causar distúrbios do sono, ansiedade, irritabilidade e, até mesmo, depressão.

"Quando a mulher tem uma queda de estrogênio (o primeiro da escala hormonal do ciclo feminino), geralmente o seu nível de serotonina (neurotransmissor cerebral ligado a transtornos de humor) também diminui, podendo, assim, acarretar depressão", explica.

A doutora acrescenta que as mulheres nascem repletas de folículos, responsáveis pela secreção dos principais hormônios ovarianos. E, quando não acontece a fecundação, os níveis de estrogênio e progesterona (segundo hormônio do ciclo feminino) diminuem, fazendo com que descame e sangre aquela camada preparada dentro do útero para receber o bebê, ocasionando a menstruação.

Além disso, quando os folículos acabam esse período é comumente designado de menopausa, que, na realidade, seria a última menstruação espontânea da mulher.

"A menina que vai entrando na puberdade; a mulher que tem TPM; a gestante; ou a que está chegando na menopausa, todas elas estão propensas a variações significativas na parte emocional, além daquela ligada à própria época da vida", afirma a Dra. Amanda.


Puberdade

A endocrinologista diz ainda que, na puberdade, o corpo da menina começa a dar sinais de mudança, ela já se compara com as outras e fica meio sem saber se é criança ou mulher. Tudo isso aliado às variações hormonais. "Aqui no Brasil, cuja população é composta por várias raças, as meninas fazem geralmente a sua primeira menstruação entre os 11 os 13 anos. Nesta época, os hormônios ficam loucos, pois ainda não existe ovulação e, então, predominam os estrogênios sobre a progesterona", ressalta. A especialista comenta que os estrogênios atuam no desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários: crescimento de mamas, distribuição da gordura corporal tipicamente feminina; enquanto os androgênios, inicialmente da supra-renal e depois dos ovários, fazem aparecer os pelos axilares e pubianos. "A cabecinha da menina fica meio em crise, pois é uma fase de transformação, em que se deixa a infância para trás e se entra na adolescência, com todos os seus questionamentos", analisa a Dra. Amanda.


TPM

Nervosismo, raiva, ansiedade, irritabilidade, baixa auto-estima, depressão, distúrbios do sono e aumento de conflitos interpessoais são alguns dos sintomas da tensão pré-menstrual. Na Inglaterra, inclusive, existe uma lei que estipula diminuição de pena para mulheres que tenham cometido algum crime durante a TPM.

De acordo com a presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia da SBEM, pesquisas recentes mostram que a TPM está mais relacionada à transmissão de substâncias no plano cerebral. "Quando associamos um antidepressivo que estimule o nível de serotonina, conseguimos boa melhora", declara.


Gravidez

Já na gravidez, a quantidade de estrogênio e progesterona aumenta bastante. Por isso, quando a criança nasce algumas mulheres podem ter depressão pós-parto. Isso acontece devido à queda hormonal, que também está ligada à diminuição de serotonina no cérebro.


Menopausa

Mas é a menopausa - vocábulo designado pelo dicionário Aurélio como cessação da menstruação - que mais tem chamado a atenção, tanto dos médicos quanto das mulheres por volta dos 50 anos. A verdade é que, desde o começo dos tempos, ela nunca foi tão estudada, discutida e mencionada como na atualidade.

"Antigamente, o tempo de vida era menor. Então, raramente as mulheres passavam pela menopausa e, quando passavam, culturalmente já estavam na idade de ficar em casa quietinhas, fazendo tricô, cuidando dos netos. O aspecto cultural é muito importante também, porque o hormônio é cúmplice da fase de vida", esclarece a Dra. Amanda.


Bonitas e Inteligentes

Na vida atual, a mulher entre os 40 e 50 anos é bem diferente do estereótipo adotado no início do século 20. Bonitas, charmosas e inteligentes, nessa fase da vida elas ainda estão trabalhando, cuidando dos filhos (que vão se tornando independentes cada vez mais tarde) e, muitas vezes, separando-se do marido, ou já com um novo namorado, uma vez que os casamentos são desfeitos com mais facilidade.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) evidenciam que a população brasileira acompanha uma tendência internacional, impulsionada pela queda da taxa de natalidade e pelos avanços da biotecnologia.

Embora a fecundidade ainda seja a principal componente da dinâmica demográfica brasileira, em relação à população idosa é a longevidade que vem progressivamente definindo seus traços de evolução. E no Brasil, em média, as mulheres vivem oito anos mais do que os homens.


Reposição Hormonal

"Calcula-se que mais de 1/3 de nossa vida é pós-menopausa. Por isso, temos que começar a pensar numa reposição hormonal. Não podemos separar a mulher do tipo de vida atual. Vamos viver cada vez mais na menopausa e devemos viver bem, não vegetar", opina a Dra. Amanda.

A especialista afirma que é preciso deixar de lado a idéia da reposição hormonal como um "bicho de sete cabeças". "Existem hormônios e hormônios; não podemos colocar todos no mesmo saco. Quando a gente substitui os hormônios exatamente iguais aos das mulheres, seja estrogênio ou progesterona, na quantidade ideal para cada uma delas, a qualidade de vida dá um pulo fantástico!", comenta.

Além disso, de acordo com a Dra. Amanda, até mesmo a aparência física da mulher que faz reposição hormonal pode ficar mais jovem, já que o estrogênio é responsável pelas curvas na cintura do sexo feminino.


Benefícios

A médica ressalta que o estrogênio também contribui para que a mulher durma melhor, atua contra as ondas de calor comuns nas alterações hormonais, entre outros benefícios. E, na menopausa, além da conseqüência da idade, há também uma acomodação diferente da gordura corporal.

"A mulher, que até então não possuía gordura localizada no quadril, começa a ter; e a tendência se estende ao abdômen - um aspecto mais masculino. Isso não tem apenas importância estética, mas também na saúde, pois pode acarretar resistência à insulina, pressão alta, aumento nos níveis de triglicerídeos, gordura em vísceras e
no fígado, além de maior risco de doença cardiovascular", alerta.

"É comum que a mulher com alterações hormonais acorde toda suada, devido às ondas de calor. Então ela troca de roupa, depois sente frio e fica naquele cobre-descobre! Não é uma noite repousante. No dia seguinte está cansada, irritada, não trabalha direito. As coisas vão se somando", diz a doutora.

A especialista aponta outros problemas da não-reposição hormonal: ressecamento vaginal, diminuição da libido (devido à perda de testosterona - outro hormônio secretado pelos ovários), perda de cálcio nos ossos, maior tendência a desenvolver Mal de Alzheimer e câncer de colo do intestino.


O Tratamento

Segundo a Dra. Amanda, o primeiro problema na mulher que está "fazendo vestibular para a menopausa" é a falta de progesterona. Então, ela começa a ter irregularidade menstrual. Portanto, este é o primeiro hormônio a ser reposto.

Com isso, a mulher volta a obter os ciclos regulares. Mas chega um dia em que deixa de menstruar, mesmo com a progesterona. Isso significa que também está faltando o estrogênio e é chegada a hora de repor os dois hormônios.

"Em alguns casos em que a menstruação constitui um problema, como enxaqueca, muita cólica, sangramento abundante, a gente pode até tentar um tipo de reposição em que não exista sangramento. Como a quantidade de estrogênio que a gente dá é a mais baixa possível e a de progesterona é a ideal para a proteção do útero, esse sangramento costuma ser pequeno, sem maiores problemas associados", explica a Dra. Amanda.


Por Quanto Tempo?

Muitas mulheres perguntam por quanto tempo devem fazer a reposição. Para a Dra. Amanda, enquanto elas estiverem realizando seus exames de seis em seis meses e sendo orientadas pelo ponto de vista médico, os hormônios devem ser continuados para manter a qualidade de vida.

"Se pararmos com a reposição, só iremos mudar a época da menopausa. A questão do tempo é medida apenas com relação ao começo, pois não iniciamos em mulheres mais velhas, depois de já estarem cerca de dez anos na menopausa", conclui.


Fonte: www.sbem.org.br




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